segunda-feira, agosto 29, 2011

O maquiavélico plano Franco-Alemão (2)



As condições do trabalho resultam, directa ou indirectamente, do Jogo da Economia. Exclusivamente.

Qualquer actividade industrial tem objectivos em diferentes frentes; a que nos interessa aqui é a minimização do custo de produção.

Pensemos numa fábrica de automóveis, algo que é razoavelmente conhecido da generalidade das pessoas. Há muitos aspectos a considerar na minimização dos custos e todos eles têm merecido a melhor atenção. Por exemplo, há toda uma complexa teoria sobre o fornecimento de componentes, que passa por tornar os fornecedores parceiros do processo de produção.

A produção faz-se com máquinas e pessoas; logo, maximizar a relação trabalho/custo das pessoas é outra das preocupações críticas, aquela que nos interessa agora.

A produção de um trabalhador tem um máximo, que depende das características humanas, das circunstâncias, do tipo de trabalho. Por exemplo, com o aumento das horas de trabalho aumenta a taxa de erros e os erros têm um custo; logo, o nº de horas de trabalho não pode ser qualquer, há um valor óptimo. Por outro lado, o metabolismo do ser humano é variável; utilizar o metabolismo no máximo diminui a vida útil do trabalhador; há assim um ponto óptimo para o metabolismo exigido e a vida útil desejada do trabalhador. No tempo da escravatura negra, a esperança média de vida do escravo era da ordem dos 7 anos; hoje, há actividades em que a vida útil média é de apenas 2 anos, ao fim dos quais as pessoas sofrem de problemas incapacitantes vários, como esgotamento, burnout e tendinites, consoante a actividade.

Um exemplo de como quaisquer considerações não económicas são irrelevantes é o seguinte:

A segurança nas empreitadas tem um custo; os acidentes de trabalho também têm um custo; então faz-se uma «análise de risco» que consiste em encontrar o valor a gastar nas medidas de segurança de tal maneira que o custo final das medidas de segurança e dos prejuízos dos acidentes seja mínimo. Ou seja, quando se começa uma grande obra de construção civil já se sabe que vão morrer N pessoas nessa obra porque isso é o que optimiza o investimento a fazer em segurança – podiam morrer menos, mas isso não seria economicamente vantajoso. Mesmo a decisão de fazer ou não determinadas obras se baseia no mesmo tipo de análise – por exemplo, passagens elevadas para peões. Notem que isto não é assim em todas as sociedades, mas é na nossa.

Optimizar o custo do trabalho é pois encontrar o ponto óptimo da relação produção/custo, independentemente de quaisquer outras considerações, nomeadamente as de natureza moral. Quem gere actividades que visam o lucro considera exclusivamente os aspectos económicos.

Quando uma fábrica consome a capacidade produtiva de uma pessoa e a larga, incapacitada, na sociedade, essa pessoa vai ter um custo para a sociedade que tem de ser reflectido nas contas da empresa, por exemplo com a TSU e impostos, multas por acidentes de trabalho, etc.

Assim, uma grande estrutura de produção, como uma fábrica de automóveis, considera estes factores todos na sua optimização da mão-de-obra. Ela não entra em conta com coisas como a felicidade ou a dignidade das pessoas a não ser na medida em que isso se pode reflectir economicamente. Por isso, as pessoas devem saber como fazer reflectir economicamente as coisas que verdadeiramente lhe interessam. Tentar conseguir isso por via dos «direitos» tem-se revelado ineficiente, estes nunca são estabelecidos ou mantidos se não tiverem uma vantagem económica. Como já disse, os Jogos que estão em cima da mesa são o Jogo da Economia e o Jogo do Poder; princípios, moral, felicidade, dignidade, etc, não fazem parte destes Jogos. Não estou a dizer que não existam, estou a dizer que para os aplicar é preciso ser capaz de os traduzir em consequências económicas. Quem são for capaz de fazer isso está condenado a não ter felicidade nem dignidade. Está condenado a ser escravo.

No próximo post vamos ver o que é ser escravo.

 (Note-se que me estou a referir ao nosso tipo de sociedade capitalista; nem todas as sociedades actuais se reduzem à economia desta maneira e podem existir outros modelos de sociedade a ser inventados ou aplicados. Mas a nossa realidade presente é esta.)

2 comentários:

antonio ganhão disse...

Interessante reflexão, mas esse custo-benefício tem de ser medido com a solicitação/expectativa do mercado. A FIAT sofre com a crise de uma forma que a Ferrari desconhece. Optimizar os custos de produção na Ferrari passa por premissas bem diferentes da FIAT...

A FIAT lucra com a mão-de-obra a custos muito controlados o que para a Ferrari seria seguramente a sua morte.

alf disse...

antonio

suponho que a Ferrari tratará as pessoas de maneira diferente porque essa maneira diferente permite um melhor racio produção/custo no seu caso específico; em grupos pequenos as relações pessoais contam e isso pode fazer muita diferença.

Em Portugal isso não se vê muito mas noutros países o patrão contabiliza cuidadosamente quanto custa cada empregado e quanto rende, seja qual for a actividade.

O que diferencia as grandes fábricas das pequenas é a sua capacidade de moldar o ambiente. Se for possível criar um ambiente de carência generalizada, as pessoas vão achar que ser escravo é um privilégio; as grandes empresas exportadoras, cujo mercado não é o dos seus trabalhadores, têm óbvias vantagens em existir num ambiente de carência generalizada e têm a capacidade de o estabelecer.