terça-feira, setembro 13, 2011

O maquiavélico plano Franco-Alemão (6)


Já não há multinacionais

O grande inconveniente do sistema capitalista é que quem é mais rico tem mais capacidade de enriquecer; diversas medidas foram tomadas para obviar a este problema. Uma das brilhantes soluções introduzidas foi a criação das sociedades anónimas, empresas cujo capital podia estar distribuído; toda a gente poderia ser sócia duma grande empresa e beneficiar da capacidade de enriquecimento que a dimensão dá através da distribuição de dividendos e da valorização da empresa, traduzida na sua cotação em bolsa; a possibilidade de pessoas de qualquer país poderem ter acções de qualquer empresa tornaria a economia global, acabaria com as lutas entre países porque os interesses das pessoas seriam transversais à sociedade.

Esta ideia cedo começou a ser desvirtuada; o ser humano tende sempre para o seu interesse particular imediato, que não é o objectivo do jogo da economia nem de qualquer jogo; os jogos têm sempre um objectivo colectivo - é por isso que são inventados, são uma forma de sobrepôr o interesse colectivo ao individual, indispensável ao progresso da sociedade humana -  mas os humanos fazem «batota» sempre que podem. Os humanos usam, tanto quanto podem, o jogo da Economia, concebido para fazer evoluir a sociedade humana, para o seu objectivo individual de enriquecimento, poder, protagonismo. Qualquer jogo jogado por humanos carece de constante fiscalização, de árbitros, polícia e justiça, que o mantenham a correr de acordo com as regras e objectivos, como acontece com o futebol; porém, no que se refere à economia, isso tem sido mal conseguido e os «batoteiros» dominam o jogo – tanto os «batoteiros» individuais como os «batoteiros» a outras escalas – por exemplo, à escala dos países.

Os grandes accionistas das empresas cedo descobriram que aumentavam os seus ganhos pessoais usando o dinheiro dos lucros não para pagar dividendos mas na na forma de brutais ordenados pagos a si próprios, através dos lugares que a sua posição de accionista lhes permitia ter. As acções, por seu lado, em vez de valerem em função dos dividendos, passaram a ser bilhetes para o casino da bolsa.

Com a globalização, os países entraram em competição entre si; naturalmente, as políticas anti-monopólio anteriormente usadas para manter a sociedade num desenvolvimento equilibrado perderam o sentido – com a globalização a aposta dos Estados passou a ser ter empresas tão grandes quanto possível para conquistarem o mercado mundial. Os campeões das políticas “anti-trust”, os EUA, declararam o fim destas políticas. Os países entraram verdadeiramente em guerra, agora uma guerra económica, e por isso querem que as suas empresas sejam o mais forte possível

Nesta guerra entre países, as grandes empresas deixaram de ser «multinacionais»; passaram a ter um dono, uma pátria, para onde os seus lucros são desviados. A Volkswagen não é do senhor A ou B, é dos alemães, a Fiat é italiana, a Telefónica é espanhola, etc, etc. Podem existir participações de um país em empresas doutro país apenas enquanto existir perpectiva de isso servir para adquirir essa empresa – os italianos na Galp, por exemplo – ou então quando dois países decidem cruzar as suas participações em duas grandes empresas, numa política de alianças que de algum modo corresponde ao casamento entre princípes da Idade Média.

O fim da ideia do multinacionalismo empresarial corresponde na verdade ao fim de uma ideia de globalização da economia a à passagem para o seu oposto, para uma guerra económica global; as empresas deixaram de ser «globais» em relação a quem delas beneficia mas, ao contrário, passaram a beneficiar especificamente este ou aquele país.

Um caso interessante é o BIC; é Português? Angolano? Brasileiro? Tem capital das 3 origens e a sua pátria é… a língua portuguesa. O que tem de interessante, para mim, é que aponta uma possível saída para a nossa situação, antes a pátria da língua do que pátria nenhuma.

O facto de a bolsa estar a cair não é nenhuma surpresa; por um lado, aplicar os capitais nas dívidas soberanos é o negócio do momento, já não é a bolsa; mas por outro lado a bolsa cai porque os «países» vendem as acções que têm nas empresas onde não há perspectivas de posse para aplicar o dinheiro onde isso é possível, nomeadamente através do recente processo de «privatizações» das empresas públicas dos PIGS.

As ditas «privatizações» mais não são do que aquisições de empresas de serviço público de um país por outro país. A «privatização» da EDP é apenas a nacionalização da EDP pela Alemanha. Ou seja, a EDP vai deixar de ser portuguesa e vai passar a ser alemã.

Da mesma maneira, a «privatização» dos transportes públicos em Portugal mais não vai ser do que a sua nacionalização pela França.

Reparem agora no seguinte: os transportes publicos davam prejuizo porque o Estado impunha tarifas baixas; se o Estado permite tarifas altas, passam a dar lucro; enquanto forem empresas publicas, a diferença entre uma coisa e outra é que no primeiro caso os custos dos transportes públicos são suportados também por pessoas que os não utilizam e no segundo recaem exclusivamente sobre os utilizadores, mas em qq caso, o seu saldo ou déficit é intrínseco às contas do Estado Português, ou seja, os portugueses pagam pelos transportes públicos exactamente o que eles custam. Agora, se vão ser entregues aos franceses, com tarifas altas para dar lucro, os portugueses vão andar a pagar os transportes publicos para dar lucro aos franceses!!!! Os transportes públicos vão sair mais caros aos portugueses; isto não é completamente estúpido???? Não é «hipotecar o futuro dos nossos filhos»? Pior: vão fundir as empresas de transportes publicos numa única, criando um monopólio para ser entregue aos franceses!!! As pessoas ou pagam o que eles quiserem ou trazem o carro e pagam parque o dia todo!!

Este não é certamente o caminho que nos interessa; somos tão capazes de gerir redes de transportes publicos como os franceses, não há razão nenhuma para lhes entregarmos os nossos transportes publicos. Mais vale fazermos uma «vaquinha» com brasileiros, angolanos, moçambicanos, cruzarmos participações, eles participam nos nossos transportes e nós nos deles. Mais vale seguirmos o exemplo do BIC.


Portanto, compreendamos: o que está em causa com o dito processo de privatizações em curso não tem nada a ver com privatizações, tem a ver com a nacionalização das nossas empresas públicas pela França e Alemanha.

Isto não sucede por acaso, não é ditado por simples razões económicas, há uma razão profunda para esta ânsia que os franceses e alemães exibem para nacionalizarem as empresas públicas dos PIGS; não é óbvio que esta insistência nas «privatizações» das empresas de serviço público tem «água no bico»? O que é que eles querem realmente com estas «pseudo-privatizações» que não passam de nacionalizações mascaradas?

(ainda não foi agora que revelei o plano desses artistas que querem pôr a nossa bandeira a meia –haste, convencidos que estão que já somos só “meio-país”, a outra metade já é deles; um pouco mais de paciência, é que temos de compreender muito bem a tramóia toda)

2 comentários:

UFO disse...

obrigado Alf.
estou sem palavras.

alf disse...

UFO

Eu é que te agradeço!

Abraço