quinta-feira, junho 07, 2012

Os ultraliberais são como os nazis das SS


fiquem com este texto que eu vou andar de bicicleta (imagem tirada daqui)


O quadro a que conduz a economia ultraliberal é bem claro. É como no futebol: entre os muitos jogadores de futebol profissional portugueses, há uns poucos que ganham muitíssimo (e jogam no estrangeiro), mais uns pouquinhos que ganham menos mal e a esmagadora maioria, talvez mais de 80 ou 90%, ganha miseravelmente. Contrariamente ao que se possa pensar, não há nada tão igualizador como o ultraliberalismo, que tende a gerar 1% de privilegiados e 99% de miseráveis.

Mas o futebol não são só os jogadores, há os presidentes e donos dos clubes, alguns são eleitos e é aqui que há uma enorme diferença: a sociedade da economia ultraliberal é uma sociedade de castas. Há a casta dominante e depois a maralha em competição. Esta maralha ganha o mínimo possível – mesmo o Cristiano Ronaldo ganha o mínimo que o Real Madrid teve de pagar para o ter. Qual é o mínimo que o patrão do leitor precisa de pagar para o contratar? Vá fazendo as contas... Se não pertence ao lote dos 1% melhores, ficará no lote dos restantes, e os restantes vão estar dispostos a trabalhar por uma sopa.

O que resulta desta economia ultraliberal é uma massa de escravos e miseráveis. Para estes economistas, como a Lagarde já o disse, não há razão nenhuma para um grego – ou um português – ganhar mais do que um nigeriano. E não há razão porque ambos pertencem ao “povo”, não pertencem ou estão ao serviço da casta dominante, como a Lagarde ou o António Borges ou o Constâncio.

O que tem travado este caminhar para a escravatura são as ideias do Estado Social e a força organizada dos trabalhadores que, entre outras coisas, impuseram ordenados mínimos. A classe média na Europa consegue ganhar actualmente uns 50 a 100% mais do que o ordenado mínimo. Se ganham o que ganham, é porque o ordenado mínimo é o que é.

Mas a economia ultraliberal não quer saber de ordenados mínimos e nem pensar em Estado Social. O objectivo não é uma sociedade melhor, é separar águas, isolar a casta dominante do povão.

É por isso que é preciso acabar com o “Estado Social”, cujo fim o director do BCE já declarou. Sonham com o fim do Estado Social. Sem o Estado Social, só os ricos terão acesso a educação de qualidade e a condições de vida que permitam garantir aos seus filhos um mínimo de condições de sucesso. Sem o Estado Social, a sociedade de castas fica definitivamente estabelecida. Voilà!

É por isso que os ricos e seus servidores não pagam impostos – nem a Lagarde paga impostos. Não pagam porque o Estado é para servir os interesses do povo, não deles, logo, o povo que o pague. A única coisa que os ricos precisam é de uma polícia para manter o povo controlado.

Não se pense, porém, que isto é uma novidade, algo que está a acontecer pela primeira vez. Nada disso, isto já vem do fundo dos tempos e do fundo da natureza humana. Foi por causa disto que se fizeram as guerras mundiais do século passado. Na altura, o argumento encontrado pelos economistas de serviço foi o de que não havia “espaço vital” para toda a gente, logo, as “raças superiores” tinham de dominar as outras por direito genético e exterminar os que não fossem domináveis, como ciganos, judeus e comunistas. As guerras mundiais nasceram do mesmo tipo de ideias “económicas” que dominam agora a Europa. Ideias ao serviço de um único objectivo: a defesa da casta superior. É por isso que o comunismo foi tão violentamente combatido e denegrido. Mas agora que o muro de Berlim caiu, que a ameaça para as castas superiores que o comunismo representava desapareceu, eis que essas castas ficaram livres para estabelecer a escravatura. De novo!

(note o leitor que eu não sou comunista; o modelo de sociedade que prefiro, dos que conheço, é o dinamarquês)

O nosso governo vai reduzir a saúde pública ao indispensável dos indispensáveis. Irá degradar o ensino público. Aumentará as cadeias e as polícias. E claro que vai baixar os ordenados. A garantia de que os ordenados vão baixar já foi “dada” por Passos Coelho – ele tem muito azar, sempre que garante uma coisa, acontece o contrário... O Estado deixará de ter quadros de médicos, enfermeiros, professores, etc – passa tudo a ser contratado a empresas de trabalho temporário. E baixando os ordenados do Estado, baixam todos.

Então a classe média queria ordenados europeus num país onde o ordenado mínimo é menos de 1/3 de outros países??? Se o ordenado mínimo é 500 euros, o das classes médias não deve passar dos 750 euros – por agora, porque a seguir este ordenado mínimo acabará e descerá até à sopa. Claro que os ordenados têm de descer!!! São as “leis do mercado”!

É que economia ultraliberal nivela por baixo. Quando cada um trata dos seus interesses, todos perdem para o mais forte. Óbvio.

Mas notem que em Portugal sempre foi assim; a única coisa que mudou para nós foi a escala – até ao 25 de Abril, ser licenciado em Portugal era pertencer ao 1% mais; hoje, ser português é pertencer aos 99% menos. A desigualdade sempre foi o nosso timbre, é por isso que temos 40% de abandono escolar – que significa que 40% das crianças têm condições de vida miseráveis. Contra isso, ninguém se indignou; mas indignaram-se com as medidas para melhorar essa situação. A escolha agora é bem clara: ou queremos a economia de mercado à escala europeia ou queremos um Estado Social; mas têm de decidir já porque quando forem escravos já não decidem nada. E isto vai piorar muito porque baixar os ordenados nada vai resolver, o desemprego vai crescer imparavelmente (calculo que  é preciso menos de uns 20% da população para produzir tudo o que se consome actualmente, e quanto mais baixos os ordenados, menos se consome) e em breve estarão soluções de extermínio em cima da mesa (disfarçadas, é claro).

(um último pensamento: eu apostava que o Deutsche Bank, ou o Barclays, devem ter uns buraquitos do tamanho da dívida soberana portuguesa; o que irá acontecer quando isso vier a lume?)

11 comentários:

UFO disse...

infelizmente tens razão.
(bom passeio. a imagem deve ser já resultado do aquecimento global e mesmo que não o seja a temperatura sobe só de apreciar a paisagem)

vbm disse...

De facto, se a taxa de crescimento do rendimento do punhado dos mais ricos for superior à do crescimento global do todo da população, a riqueza anual produzida concentrar-se-á crescente e maioritariamente nesse punhado de ricos. Se essa taxa for inferior à do crescimento global, a desigualdade da repartição do rendimento diminuirá progressivamente.

De qualquer modo, a divisão de classes não é uma separação por castas porque há, atomisticamente, mobilidade vertical, ascendente e descendente, entre as duas classes, os «ricos» e os «pobres e remediados».

Eu suponho que a UE irá adoptar medidas mais protectoras do mercado interno europeu, face ao exterior, o resto do mundo, a saber os EUA, a China, a Índia, a OPEP, a Ásia, o Japão, a América do Sul e a África (esta, está a ser ocupada pela China!).

Por exemplo, os "Project Bonds" animarão a indústria da União com benéficos efeitos de propagação da produção e emprego na Europa. Pena é, já não termos indústria - equipamento hidro-eléctrico de barragens, produção de carruagens e vagões de caminho de ferro, metalo-mecânica pesada em geral - com a qual pudessemos concorrer na subcontratação da produção de tais equipamentos!

De qualquer modo, em termos políticos, as democracias ocidentais mostram-se vulneráveis à corrupção, demagogia e manipulação das massas populacionais. A esquerda sindicalizada é tão corporativista quanto os sociais-nacionalistas das ditaduras de classe. A alta burguesia é a única que me parece mais permeável a acolher alguma mentalidade progressista, capaz de radicar o seu interesse de classe nos valores do conhecimento, da ciência e do equilíbrio material e político da civilização.

alf disse...

UFO

no verão é o que apetece.. viver o momento... preocupações com o futuro só quando o presente tem falta de calor lol

alf disse...

vbm

Os teus comentários forçam sempre à discussão dos problemas... e assim havemos de chegar à luz!

a ideia da mobilidade vertical não se verifica na realidade; e por duas razões. Uma é que quem quer que seja que suba um bocadinho na escala social logo faz os possíveis para tirar disso vantagem - um exemplo claríssimo são as benesses dadas aos colégios particulares para o acesso à universidade. a "igualdade de oportunidades" é um princípio que tem de ser imposto; não sendo, as pessoas fazem tudo para a contrariar. Têm sido feitos vários estudos em Portugal que mostram que a mobilidade é quase zero.

Outra razão é que existe mesmo uma "casta" superior. Eu sei porque tenho contactos com todo o tipo de pessoas, incluindo dessa casta. E pertencer a essa casta é como ser judeu, pode-se sair dela mas não se entra para ela.

O grande problema da sociedade actual é que ela já não se pode basear no emprego. Com os aumentos fabulosos da capacidade de produção, basta uma pequena quantidade de pessoas a trabalharem para produzirem tudo o que a humanidade é capaz de consumir.

Isto é ótimo porque significa que as pessoas podem dedicar-se muito mais a actividades não produtivas, nomeadamente a investigação e as artes, ao desenvolvimento da cultura, a pensarem. Foi isso que tornou grandes os gregos da antiguidade. Estupidamente, em vez de se seguir esse caminho, está-se a querer fazer o caminho oposto, em fazer depender a distribuição de riqueza da produção; e isso vai conduzir ao desastre porque não há mercado para mais produção, produzir mais num lado implica produzir menos noutro.

actualmente, não se produz para satisfazer uma necessidade, a guerra da produção é produzir eu em vez de tu; e como é que eu consigo isso? produzindo mais barato. E como é que eu produzo mais barato? Pagando ordenados mais baixos e não pagando impostos, entre outras coisas. Isto cria uma espiral de empobrecimento ao mesmo tempo que extingue o estado social. Por outro lado, ao pagar menos, faz diminuir o mercado, o que agrava o problema.

A solução para este problema é uma sociedade que impõe horários máximos de trabalho e reformas muito cedo, para reduzir o período de trabalho e dar a todos oportunidade de o ter; e não há problema nenhum de sustentação do sistema porque não há carências, vivemos, embora não pareça, na sociedade da abundância.

Na verdade, o maior problema é ocupar as pessoas que não se interessam por artes, cultura, investigação; para isso servem obras públicas e projectos utópicos.

os chineses já perceberam isto muito bem, pelo que pude ver, e estão a construir uma sociedade de acordo com isto; a ocupação de mão-de-obra em trabalhos que no ocidente seria considerado "gasto de dinheiro" está por todo o lado, a uma escala inimaginável pelos nossos padrões.

Os líderes políticos são tão raros como os génios na ciência; os chineses têm a sorte de os terem nesta altura.

Diogo disse...

E então que fazer, Alf?

Eu defendo que para matar um polvo se deve começar por eliminar as ventosas, as mais expostas, e depois avançar para os tentáculos e, por fim, esmagar-lhe a cabeça. Quero eu dizer que a pirâmide que domina o mundo tem uma base larga e próxima das vítimas e vai por aí acima, sempre dependente dos de cá de baixo.

Portanto, o que a população tem de fazer é literalmente limpar o sebo à base larga e próxima das vítimas: políticos corruptos de segunda linha, juízes venais e comentadores mediáticos. Com eta base eliminada, segue-se uma segunda linha: políticos importantes, banqueiros, etc. E por aí fora.

E não se pense que a pirâmide substitui com facilidade as bases. Se a sua eliminação for suficientemente violenta, os suplentes serão mais difíceis de encontrar.

Em suma, numa luta contra uma máfia que domina o dinheiro, a política, as leis, a aplicação destas e a propaganda, só uma violência bem dirigida e bem calculada. Mas tem de ser uma violência.

alf disse...

Diogo

Sabe, os novos mafiosos adooooram essas soluções! Vão logo para a cabeça da luta, limpar o sebo a esses "instalados" todos e depois.. instalam-se eles! Claro!

Não é por aí meu caro, esse é o caminho da desgraça.

Além disso, a causa principal destes problemas não são os mafiosos e os corruptos, é o sistema em que vivemos - um sistema concebido para fazer face a um problema de falta de recursos que já não existe e está completamente desajustado da realidade actual

Os nazis das SS são quase toda a gente - não houve dificuldade nenhuma em recrutar pessoal para as SS, nem informadores para a Pide, pois não? Até o Cavaco preencheu pressurosamente a sua ficha na Pide...

Apontamos agora o dedo aos alemães; mas a verdade é que a classe média portuguesa tem sido muito pior do que os alemães - e a prova disso está nos inacreditáveis 40% de abandono escolar. Somos contra o RIS mas queremos que os alemães nos sustentem? Queremos desigualdade para baixo e igualdade para cima? Ora ora...


Para ser possível mudar de sistema, as pessoas têm de perceber que este não serve; e só percebem isso quando sofrem as consequências na pele. Por isso, isto tem mesmo de ir ao fundo para abrir caminho a um novo sistema.

No entretanto, o que podemos fazer é ir definindo que sistema instalar em vez deste; e temos muito onde nos inspirarmos, desde os dinamarqueses aos chineses, já quase toda a gente tem um sistema melhor. A pedra de toque é acabar de vez com a ideia de que se cada um tratar de si, todos beneficiam. Não. Todos se lixam.. Mas as pessoas só vão aprender isso quando estiverem todas lixadas.

E isto vai ao fundo quando o deutsche bank estoirar... cá para mim devem andar aflitinhos a tapar o buraco, como fez o Constâncio com o BPN durante seguramente mais de 1 ano (essa a sua mais valia, por isso o BCE foi buscá-lo....). Aliás, com o estoiro da banca espanhola, as coisas são capazes de se desenvolver muito rapidamente.

Como é que vamos "manter o barco a navegar" durante a tormenta é que eu não sei; mas sei uma coisa: vamos ter de ser muito solidários, se começa cada um a pensar só em si...

fa_or disse...

Ah, os bancos... os bancos...
não são eles os donos do mundo?
Até quando?
http://www.publico.pt/ProjectSyndicate/George%20Soros/o-imperio-acidental-1549545

alf disse...

MaFaR

Esse interessante texto do Soros começa com uma frase que diz tudo:

"É agora evidente que a principal causa da crise do euro reside na renúncia do direito de emitir moeda por parte dos estados-membros, a favor do Banco Central Europeu."

Segundo o Soros, estas e outras coisas resultam de erros, de burrices, não são o resultado de uma estratégia deliberada; eu discordo - pode não ser uma estratégia dos políticos alemães, mas é uma estratégia deliberada do poder económico para se sobrepor ao poder político. Por isso é que isto foi feito às escondidas, só com a crise é que se soube que o BCE está proibido de financiar as dívidas soberanas.

E o Soros, na minha opinião, está a "defender a sua dama", ou seja, a desviar a atenção da mão do poder económico neste processo; por isso é que o seu texto começa interessante mas acaba banal, o seu único objectivo é chutar a responsabilidade para os políticos sem propor nada que possa beliscar a supremacia do poder económico

Por isso, é exactamente como dizes...até quando os vamos deixar serem donos do mundo?

vbm disse...

Gostava de saber porquê os árabes não têm moeda própria e os chineses a têm desvalorizada. Aqueles usam o (petro)dólar, pelo que os americanos pouco se importam de dever muito ou pouco, pois que nunca pagarão o que quer que seja em “moeda que se veja”. Já os chineses, desde o Nixon, aceitam não receber nada pelo que exportam, desde que os deixem em paz, a crescer na sua economia de conhecimento e armamento, ainda muito aquém da da Rússia, América, França e Inglaterra.

A Europa, i.e., Alemanha-Itália-França, prometeu “portar-se bem” com a moeda comum do euro, asseverando que não permitiria que os Estados devessem mais do que metade da produção anual, — sensivelmente a percentagem de impostos que cobram às populações que governam. Contudo, porque dirigida por aparelhos partidários oportunistas, dependentes de eleitores demagogicamente manipuláveis, rápido foi o descalabro, muito acentuado com a abertura do comércio à China e Terceiro-Mundo e consequente desmantelamento da indústria doméstica.

O caso é, nada substituiu os acordos monetários do final da 2ª Guerra, pelo que o dólar só persistiu credível pela dinâmica da economia americana, mas sem efectiva cobertura pelo ouro e balança de pagamentos equilibrada pela produção bens realmente transaccionáveis — salvo o material de guerra, sempre procurado!

Ora, se árabes e chineses tivessem de facto moeda própria, assente em reservas de ouro e divisas, i.e., créditos sobre países solventes, há muito que os bens que exportam teriam encarecido o suficiente para obrigar as economias do Ocidente a moderarem o seu consumo ou a descobrirem recursos alternativos à actual dependência energética, e cortado cerce, há muito, o endividamento irrestrito em que incorreram.

alf disse...

vbm

Há diferentes visões sobre a situação.. a minha não é a tua.

O descalabro não resultou de polítiquices - é uma consequência necessária do crescimento da desigualdade; pelo contrário, todo o "despesismo" de que se acusa agora os governos anteriores serviu para atrasar o descalabro.

A crise dos pequenos países europeus também resulta do disparate que é esta economia aberta com orçamentos locais - como tenho dito, é como se agora decidíssemos que o orçamento de, por exemplo, Castelo Branco teria de suportar todos os custos sociais das pessoas de Castelo Branco mas as empresas podem ter a sede e pagar impostos em Lisboa, entre outras coisas.

Quanto aos chineses, o que lhes permite gerir o valor relativo da sua moeda é o enorme saldo da sua balança externa - ou seja, a sua enorme autosuficiência. O valor duma moeda já não depende das reservas de ouro ou seja do que for, depende da balança de pagamentos, do diferencial entre entradas e saídas de dinheiro.

Mas a China já deixou de ser o país da produção barata; agora há outro, Portugal. É por isso que a Autoeuropa se farta agora de exportar para a China.

vbm disse...

Concordo que o crescimento da desigualdade foi sendo tolerado pelo endividamento e o “despesismo” nos sectores sociais; e também é facto que exigir às pequenas economias equilíbrio orçamental só autorizando-as a criar taxas aduaneiras à importação e incentivos fiscais ao sector exportador.

Quanto aos chineses, o yuan está fundamentado na reservas de divisas, dólares sobretudo, derivadas dos excedentes comerciais, iniciados com a abertura dos EUA à China, com Nixon, e de há uma dezena de anos a esta parte, com a abertura do comércio na UE. O facto de os chineses recusarem valorizar o yuan face ao dólar deve-se a recearem a retracção das exportações; mas dê por onde der, os EUA jamais pagarão o que devem à China à cotação cambial que tem vigorado até agora. Aliás, nem à China nem a nenhum país os americanos pagarão o que devem sem uma forte desvalorização do dólar.

Portugal não é um país de produção barata e o que irá ser no futuro é uma país de produção competitiva. Justamente, o caso da Autoeuropa mostra como: — um país atlântico com custos unitários de trabalho favoráveis, e vantagens geoestratégicas claras no comércio marítimo intercontinental. Não só os salários por unidade de produto se tornarão atractivos, o desmantelamento dos monopólios de bens e serviços não-transaccionáveis, com a abolição das respectivas rendas expoliadoras, contribuirá para a dinamização da produção interna.

Para mim, a maior curiosidade está em ver para onde se deslocarão os fundos soberanos do Médio Oriente — os tais petrodólares que arrecadam milhares de milhões na venda do crude —, porque, por certo, não construirão mais cidades como o Dubai… Talvez sigam os chineses que já começaram a ocupação de África, — da qual os Estados Unidos há muito se desinteressaram, limitando-se a uma política como a praticada pelos Portugueses no século xvii, a de feitorias na costa para acautelar, antigamente, o comércio de escravos, agora, os interesses mineiros, sem interferência interna nos governos dos cleptocratas dirigentes africanos.